sexta-feira, 1 de julho de 2011

Funeral Angélico: “Desapareceu o nosso Sandrinho e agora?”

Há quem chore, quem cante e quem reze mas são poucos os que falam. Angélico morreu, todos sabem que é verdade mas ninguém quer acreditar. As centenas de flores e as dezenas de cartazes espalhados pela Igreja Nova da Cova da Piedade, no Laranjeiro (Almada), dizem mais do que as palavras que agora custam a sair.






De manhã foram muitas as pessoas que se deslocaram à igreja. Crianças, jovens e até idosos, todos querem dizer adeus ao cantor e actor pela última vez. Uns porque são fãs desde que Angélico apareceu na televisão em “Morangos com Açúcar”, outros porque o conhecem ali da zona. Há ainda aqueles que vão por solidariedade com a mãe e família e, por fim, os curiosos. Apesar de no largo da igreja estarem algumas centenas de pessoas, é o silêncio que impera.

As demonstrações de carinho ao longo dos últimos dias têm sido tantas que a família teve que organizar a entrada na capela onde o corpo do actor esteve em câmara ardente em caixão aberto. As pessoas só entram em grupos, primeiro de dez, depois de 20 e por fim de 30 pessoas. A volta é rápida e não se pode parar. A imagem de Angélico não é a que todos se lembram e não estamos preparados para algumas marcas do acidente no rosto. Mas nem isso afasta os pais que levam as crianças, muitas ainda de colo, a ver o seu ídolo. Lá dentro só permanecem a família e os amigos.

Angélico está Angélico, vestido com um fato branco e como sempre gostou de usar, um chapéu, também ele branco. Branco e não preto foi, aliás, a cor do funeral. A mãe, a família e os amigos próximos estão vestidos de branco.

O padre chega e as entradas na igreja acabam. Assim que a cerimónia religiosa começou ficaram apenas os familiares e amigos, entre eles muitas caras conhecidas da televisão, da música e do desporto.

Os seus colegas actores das novelas, principalmente de “Espírito Indomável”, a última em que Angélico participou, estavam quase todos. Também os jovens actores de “Morangos com Açúcar” voltaram a juntar-se num funeral, uma vez que o jovem actor Franscisco Adam foi também vítima de acidente de carro em 2006. Tony Carreira e o filho David, os colegas dos D’ZRT (Paulo Vintém, Edmundo Vieira e Vítor Fonseca), Abel Xavier e Naide Gomes, Cláudia Vieira e Pedro Teixeira são alguns dos presentes. E Rita Pereira. Desde que chegou ao Porto, mal soube do acidente na A1 perto de Estarreja, a conhecida actriz de novela, que namorou com Angélico durante alguns anos, esteve sempre ao lado da mãe do artista.

A multidão de fãs, essa, ficou para lá das grades, sempre em silêncio, ouvindo a missa através de altifalantes.

“Hoje é dia de dizer ao Angélico até breve. Vamos deixar que o silêncio fale em cada um de nós”, disse o padre que presidiu à missa e que parecia conhecer o cantor desde pequeno.

“Mesmo depois de chegar onde chegou não deixou de ser o Sandro que sempre conhecemos desde criança. Simples e humilde”, lembrou o padre, apelando à família e aos amigos para “continuarem os projectos que ele tinha”. “Para que fique sempre entre nós e seja um símbolo para a juventude.”

E foi nisso que Sandro Milton Vieira Angélico, conhecido por Angélico Vieira, hoje se tornou. Um ídolo. Não há ninguém que critique o actor de 28 anos que morreu num aparatoso acidente, muito pelo contrário: “não bebia nem fumava”, “era tão simpático e humilde”, “sempre teve um sorriso no rosto”, “estava sempre disponível para ajudar”.

“Quando foi o Dino [Francisco Adam] falou-se em drogas, do Angélico não há nada disso, nem a história do cinto porque já foi provado que ele o tinha posto”, diz uma senhora, fazendo eco das declarações de Hugo Pinto, o jovem que escapou ao acidente apenas com ferimentos ligeiros e que afirmou à TVI que Angélico tinha o cinto posto e que os bombeiros tiveram mesmo que o cortar para conseguir tirar o actor do carro. Informação confirmada pelo PÚBLICO. "O Angélico tinha cinto de segurança, de certeza absoluta. Foi um bombeiro nosso que o cortou", afirmou Manuel Neto, comandante dos Bombeiros de Santa Maria da Maria, que acorreram ao local

“Desapareceu o nosso Sandrinho e agora?”, chora uma tia de Angélico quando vê o caixão entrar no carro funerário. A mãe sai, apoiada pelo pai, que veio de Angola, mal soube do acidente do filho.Entre os choros aflitos da família, ouvem-se gritos de apoio e muitas palmas. Em marcha lenta, o cortejo saiu para o Cemitério do Feijó, em Almada. A estrada foi cortada e ao longo do caminho muitas pessoas se foram juntando. Por onde passava, as pessoas despediam-se de Angélico com grandes ovações e nas janelas dos prédios, muitos lenços brancos.

“Voltar, tudo o que eu quero é voltar, pôr de parte as coisas más e amar”, canta um grupo de fãs, entoando o refrão da conhecida música dos D’ZRT. Bastou isso para que todos começassem a lembrar o reportório do artista. Muitas músicas foram cantadas, gritou-se Angélico vezes sem conta e pelo meio ouviram-se gritos de apoio a Rita Pereira, que seguia no carro funerário, ao lado dos pais.

Da igreja ao cemitério foram cerca 40 minutos. Mas se no percurso estavam centenas de fãs, no cemitério estavam outras centenas. Uma multidão que preencheu o cemitério. Nem o sol quente afastou as pessoas. Não havia um espaço vazio.

“Eu sei que não vou ver nada mas se não viesse aqui não me iria sentir bem. Eu só o conhecia da televisão mas ele era um amor. Ele vai sentir esta energia”, diz uma senhora, empunhando um cartaz feito por si e que diz “Angélico estarás para sempre no meu coração”.

“Ele era um exemplo para os jovens”, mete-se uma senhora na conversa. “Sabe, eu conhecia muito bem a mãe dele e até é mais por isso que estou aqui. Nenhuma mãe deve enterrar um filho. Não é justo, ele era tão novo.”

Também Joaquim, um senhor que mora ali perto, comenta que “Angélico era mesmo bom”. “Numa banda são sempre todos bons, só quando estão sozinhos é que se vê o que eles valem. Já vi muitos artistas de que gostava morrerem mas nada assim. O Raul Solnado ou o Artur Agostinho morreram mas tiveram uma vida em cheio e com muitos sucessos. Este rapaz estava a começar...” A conversa pára de repente quando a multidão percebe que o corpo já estava a ser cremado, cerca das 14h30. No crematório só está mesmo a família e os amigos, ninguém entrou e não adianta espreitar que não se vê nada. Cá fora esperam centenas, talvez milhares, de fãs. As paredes e janelas do crematório estão cheias de cartazes - alguns já vieram do Hospital Santo António - e fotografias. “Dói mais quando é assim”, diz um familiar do músico.

O processo de cremação leva cerca de duas horas. O corpo ficou no crematório, a família saiu.

Fonte:Público

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